terça-feira, 16 de julho de 2013

Relembrando os tempos

O Doc já foi um cachorro.
Lembro-me bem da primeira vez que o vi, quando me baixei para o receber e ele, com aquela sua felicidade ingénua de cachorro... me ignorou completamente e se entreteve nas ervas mais próximas a cheirar!
Podem pensar que isso para mim foi uma desilusão, mas não. Na verdade hoje significa muito para mim. Porque haveria de vir na minha direcção, se não passava de uma estranha para ele?



Desde que ele chegou à minha vida já aprendi muito sobre educação e comportamento canino. Até ele chegar tinha muitas noções, provenientes da experiência de quem sempre viveu com cães, e de quem trazia já alguns anos de bagagem a lidar com cães de rua (silvestres e dóceis). Muitas dessas noções estavam erradas. Lembro-me de ter pedido ajuda a um amigo para o treinar, e de me ter explicado como ensinar-lhe tudo em positivo, através de recompensas, mas depois me ter recomendado uma coleira semi-estranguladora para o ensinar a não puxar. Lembro-me de ter ido com ele praticar no parque, e de como apanhou um susto tão grande enquanto tentavamos ensiná-lo a deitar, que criou ali um bloqueio que só depois de mudar a palavra é que se dissipou.
Neste processo, fui crescendo, e comigo crescia também a minha paixão por esta àrea.

O que hoje tento transmitir aos clientes que me procuram é que nem sempre o senso comum é correcto, e que muitas vezes algo que funcionou com um cão não tem porque funcionar com outro(s). E o que me apaixona nesta profissão é ver a mudança nos cães, e na sua relação com as suas pessoas.
Claro que há dias tristes, quando quem nos procura não está disposto a abdicar de hábitos antigos, ou a investir algum tempo e dinheiro na sua relação com o seu cão. Mas continuo a ter, na maioria, dias bons.

Voltando ao Doc. Depressa percebi que havia muitas coisas que lia ou que me ensinavam que não faziam muito sentido, e fui procurar informar-me melhor. Sempre me fez confusão, depois de ter aprendido sobre o reforço positivo, o clicker, e como recompensar comportamentos adequados, que continuasse a ver pessoas que praticavam esta vertente tão bem, mas que depois continuassem a usar castigos (uns mais punitivos do que outros, é certo), para corrigir comportamentos. E devo confessar que só muito recentemente, há cerca de 1 ano e pouco, é que pude ter realmente a noção do que é "Treinar em positivo". Não é só uma metodologia de treino, é uma forma de estar na vida com a qual muito me identifico. É não pensar o que temos que corrigir, mas antes o que podemos fazer em vez de.
Se alguém rói as unhas, não pára apenas porque a estão sempre a chamar a atenção, ou a bater-lhe na mão, pois não? Que podemos ensinar essa pessoa a fazer para evitar que roa as unhas? Porque é que rói as unhas?
Tenho muita pena de não ter podido seguir esta linha com o Doc desde o momento em que chegou à minha vida. No entanto, mudanças estruturais na forma como lido com certos comportamentos desajustados têm mostrado resultados muito favoráveis. Talvez nem todos saibam que o Doc é um autêntico ladrão de comida. Sobretudo pão, ou lenços ranhosos na rua, sendo que encontra iguarias nas mais variadas coisas asquerosas com que nos cruzamos. Desde que mudei a minha forma de encarar esse seu "defeito", temos feito muitos progressos. É sempre tempo de mudar, sobretudo se for para melhor.

O Doc não tem defeitos. Tem aspectos a melhorar.





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