terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Ponto 2.

Tashi = cão feliz
Maria = pessoa do Doc
Cancro = proliferação anormal de células 


Egoísmo. Só me ocorre esta palavra para iniciar este post, tantos anos depois. 
Depois do Doc, veio o Cusca, depois do Cusca, veio a Tashi, depois da Tashi, veio o Pimpas. 
Partilho os meus dias com 4 cães maravilhosos (e três igualmente maravilhosos gatos).

Tanto mudou, nada mudou em todo este tempo. Continuo a lutar com as minhas próprias inseguranças e medos, sendo que o maior de todos é o de não conseguir proteger aqueles que mais amo. 
Egoísta por ter deixado de partilhar, por ter deixado de me dedicar tanto a todos aqueles que lutam contra isto. Egoísta por esconder de mim mesma os sentimentos que se acumulam com os anos de perdas significativas para isto. Pessoas. Amigos. Família. Porra para o cancro. 

Sou optimista, acho. Verdadeira no coração, mentindo para fora tantas vezes. 
Há semanas que luto com esta certeza que a Tashi tem algo mau, algo cancerígeno, combatendo com todas as minhas forças os pensamentos negativos e só falando, relevando, do estado de saúde dela com as pessoas mais próximas. Aos mais próximos, mesmo, escondido as minhas preocupações e anseios. 
Hoje tive a confirmação daquilo que, sabe-se lá como, já sabia, e mais uma vez o cancro entre nós. 
O Doc! O Doc está óptimo e acaba de completar 13 anos. E assim, num momento tão breve quanto acutilante, revivo tudo outra vez. 

Agradecida por ter o Doc ainda comigo, depois de tanta luta, de tanto sofrimento. 
Mas a Tashi. A Tashi é o meu cão perfeito. O cão que nunca quis, uma raça pouco apreciada, nada fazia prever que chegaria um dia a viver com um belga. 

A Tashi é o meu cão perfeito, tantas vezes disse que a ela devo tanto dos meus sucessos profissionais, quer na área das terapias, quer na área da reabilitação comportamental de outros cães. É a minha melhor companheira de trabalho. Em parte por que é como é (Ah, Cristina, não sabe quanto lhe estou grata), em parte porque lhe dei o melhor de mim, após anos de formação. A Tashi é a antítese do Doc, o Doc o meu maior professor, a Tashi o meu melhor aluno. 


Tashi, que em tibetano significa prosperidade, sorte, tem sido tudo isso. Tem sido mais do que isso. Tashi é família, é dedicação sem fim, é amor. A Tashi tem ajudado tanta gente, tantos cães, que não posso deixar de sentir uma enorme RAIVA que me corrói por dentro e que tento abafar com tarefas de trabalho, com projectos e com horários, que escondo em lágrimas que não quero que veja, que não quero que ninguém veja, porque eu sou forte, e eu aguento mais. 


Linfoma. 
A palavra que me assombra há semanas. 
Parar com o desabafo emocional e começar com a narrativa educativa, com a esperança de ajudar alguém a detectar o quanto antes qualquer sinal anormal. 
Conheço muito bem todos os meus cães, e por isso apercebi-me logo da poliuria e polidipsia da Tashi (em português, excesso de consumo de água e de produção de urina), o que me levou a procurar ajuda veterinária para perceber a causa. Noves fora, que é importante deixar os médicos veterinários fazerem o seu trabalho (e bem), e alguns tratamentos e exames mais tarde, quase por acaso, descobrimos um gânglio aumentado numa ecografia. E foi assim que comecei a aprender mais sobre esta doença. 

Hoje chegou a primeira das análises que confirma tudo. Ainda é tudo muito incerto, ainda não sabemos o tipo exacto de linfoma, ainda não temos previsões. Eu cá já sei que me esperam dias de enorme confusão emocional e luta interna, reflexões que me levam a questionar tudo e todos, a razão de vivermos com cães, e o porquê de me dedicar ao que me dedico. Que às vezes apetece baixar os braços, acontece a todos, não? 

Tashi, vou-me encher de força, neste blogue e em tantos outros sítios que encontrar para te ajudar como precisas. Para que não me olhes enquanto choro sem perceberes o porquê. Prometo dar o meu melhor, prometo fazer o que sei e aprender o que não sei, e munir-me de todas as forças necessárias para que sejas sempre um cão feliz.