sexta-feira, 19 de julho de 2013

Dia 1 de quimioterapia

Hoje foi o dia Q.
Não me canso de agradecer as mensagens de ânimo, de força, os olhares, os abraços e os emails. Sei que estou algo lamechas, mas vocês têm-me dado tanto carinho que me sinto impelida a começar este post com um enorme agradecimento a todos os que fazem parte das nossas vidas. Obrigada!

O dia começou bem cedo, quase sem ter terminado o ontem.
Preparei as coisas e lá fui com o Doc para a clínica. O sorriso do costume tentou apaziguar a ansiedade que eu tentava esconder. Preparar, apontar... Cateter, adesivos, manta, sistema de soro, uma cadeira para mim, e lá fomos nós.
O Doc portou-se tão bem que me deixou orgulhosa e tranquila. A sua tranquilidade em comparação com a minha angústia ensinou-me tantas coisas ao longo das horas que ali estivemos. Temos, efectivamente, muito a aprender com os animais.
Correu tudo bem. Nada de enjoos, de vómitos, nada de nada. A sério? Alívio.



As horas foram passando, o Doc com a cabeça em cima das minhas pernas, do meu braço, nas minhas costas, na minha mão, à medida que me ia movimentando tão cuidadosamente quanto conseguia para não o incomodar. Falei muito com ele. Esgotei o meu reportório de palavras doces, e quando fiquei sem saber o que dizer, li para ele. Pois é, li para ele. Ele levantava a cabeça sempre que passava gente, ou quando ouvia um som mais estimulante vindo da sala de espera ou do consultório. Ou quando eu parava de ler. Então li.

Encostei a minha cabeça à dele, e acho que adormeci breves instantes, vítima do cansaço. Foi ele que me tranquilizou. Não preciso de mais nada. Preciso que ele me tranquilize sempre.
Enquanto o tempo passava tentei ter pensamentos positivos. Imaginei-o velhinho, encostado a mim no sofá, e fiquei algum tempo com essa imagem na cabeça. Ia-lhe dizendo as coisas que ainda temos para fazer nas nossas vidas, e o tempo passou.

Viemos para casa, ambos exaustos. Descansamos juntos, eu vigilante, ele tranquilo. Bebeu, comeu, fez as necessidades, tudo normal. Tentou roubar comida aos gatos, tudo como sempre. Fomos passear, uma volta curta para não abusar, e a habituação ao açaime aos poucos, para que não incomode muito. Acho que foi para ele o pior, o açaime. Optei por lhe pôr um açaime na rua para me certificar que não ingere porcarias num momento de distração.

Depois, porque tenho o melhor "marido" do mundo, pude ir à inauguração da exposição de fotografia do curso que fiz. Quando soube da coincidência de datas, achei que tinha calhado mal. Agora que cheguei a casa sei que foi o melhor que podia ter acontecido. Distraí-me por umas horas, recebi o carinho de amigos que me visitaram e me fizeram sentir importante por ter 3 fotografias expostas, mas sobretudo, que me mostraram que estão comigo. Diverti-me, ri, brinquei, e agora voltei para casa. O Doc e o Miguel dormem enrolados um no outro, o Cusca está na cama dele, e os gatos procuram-me para um carinho de final de dia. E é assim que chega a certeza de que fiz a opção acertada. Independentemente do desfecho. Para já está tudo normal. Como A.Q. - antes da quimio.
Se o amanhã for tão bom como o hoje, estarei bem.
Obrigada pelo hoje.

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