quarta-feira, 24 de julho de 2013

Ainda sobre o tempo

O tempo teima em não passar, agora que o queria sentir apenas como uma ventania, que levasse tudo o que carrego neste processo. Podia ser já Outubro, ou Novembro, o Doc estar bem, cancerfree, e eu estar aqui a escrever-vos sobre o efeito da vitória nas nossas vidas.
Mas o tempo teima em não passar, e os dias sucedem-se lentamente, sem grandes coisas a relatar, sem nada de novo que me traga aqui, até vós.

Como medir o grau de sofrimento, ou de falta dele, de um animal?
As emoções dos animais foram sempre para mim um tema de interesse e objecto de estudo. As emoções humanas também. Tanto numas, como noutras, ainda temos tanto que explorar, e tanto a aprender... Como medi-las? Que parte do cérebro está envolvida em que emoções? Como podemos trabalha-las? Qual o papel das hormonas e outros químicos do organismo? Temas fascinantes.
Os suspiros não se medem, e não se pode quantificar a doçura de um olhar, ou a ansiedade de um abanar de cauda.
Científica, tento manter o romantismo de cada gesto, mas é difícil manter o norte e tentar a objectividade quando tantas coisas subjectivas estão ligadas è emoção. E se para nós, humanos, as emoções são tantas vezes difíceis, quase impossíveis, de demonstrar, de explicar, como será para os animais?
Continuo a acreditar que lhes é mais fácil. A parte complicada começa quando tentamos compreendê-los, e a atribuir-lhes características humanas, num fenómeno conhecido como antropomorfismo. Sem cair nesse erro, posso acreditar que sim, os cães têm emoções.

Então, como perceber se o Doc está bem, ou não? Se sente a falta de algo, ou se está bem como está? Sempre me achei tão capaz de entender o Doc, de saber o que ele precisa na hora em que sente essa necessidade... Mas não agora. Agora não consigo.
Quando, nos passeios, não o deixo explorar cantos sujos, para não apanhar nada que se coma, sei que fica triste, porque queria ir investigar.
Se, nas noites tão longas, suspira durante o sono, um ruído muito próximo de um ganido que se forma mas que ainda não o é, fico sem saber o que sente, se está a sonhar ou a sofrer.
Quando abana a cauda e levanta a cabeça quando chego, sei que fica contente por me ver.
Não tenho dúvidas de que fica radiante quando chega a hora de comer.
Onde se acabam as certezas e começam as interrogações?
Agora está aqui, ao meu lado, com uns olhos que pedem algo que eu não sei identificar. O que será?
Ignoro, continuo a escrever, e percebo que não desiste, quer o meu iogurte. Afinal não era nada profundo e delicado, era apenas gula.

Obrigada por se preocuparem. Por agora apenas isto a relatar: dúvida, incerteza, preocupação. Uma preocupação como nunca pensei ser possível. A impotência. A incerteza. Quero pensar que estou a fazer tudo conforme. Estarei?

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