quarta-feira, 10 de julho de 2013

Ponto 1.

Doc = cão feliz
Maria = pessoa do Doc
Cancro = proliferação anormal de células 

Chamo-me Maria. O Doc olha para mim enquanto começo a escrever. Já pensava escrever sobre nós há muito, mas faltava-me a coragem, o tempo. Hoje o tempo chegou e a coragem também. Decidi-me a partilhar experiências por achar que um dia poderão ser úteis para alguém, ou apenas dar ânimo a alguém que tenha que passar pelo mesmo. Espero que sim. 

Sempre vivi com cães, mas o Doc foi o primeiro cão que me recebeu como sua pessoa. Sou a pessoa mais importante do mundo dele, ou pelo menos tenho essa pretensão. 
O Doc acompanhou-me no início da idade adulta e, juntos, passamos por muitas fases importantes da vida. Com a independência veio o Doc, com o Doc veio uma nova forma de estar na vida, que acabou por me mudar para sempre: se hoje dedico grande parte do meu tempo ao trabalho com cães, ao Doc o devo. 

Sempre quis um Weimaraner. Desde que conheci a raça que me apaixonei, e quanto mais lia, mais me apaixonava, e cresceu em mim um desejo enorme de um dia poder ter um. Não sabia na altura que são eles que nos "têm" a nós... A oportunidade surgiu e agarrei-a, mal pude, quase precipitadamente. O Doc chegou, e a minha vida mudou. Um Weimaraner pode ser muito exigente, e o Doc foi mais do que isso. 

Crescemos muito juntos, e tornamo-nos companheiros inseparáveis. Ignorei muitas vezes os comentários de amigos que não percebiam porque ia mais cedo para casa para que "o cão" não estivesse tanto tempo sozinho, expliquei várias vezes às pessoas porque não queria que lhe permitissem certas coisas, e comecei a estudar, a estudar, a estudar. Desde então não parei de aprender sobre comportamento canino, técnicas de educação, tudo o que me permitisse ajudar o Doc a ser feliz, e a nossa relação a crescer. 

A primeira vez que ouvi a palavra "melanoma" veio depois da remoção de um nódulo na pálpebra, aparentemente inofensivo, e acertou-me como um soco. O susto inicial dissipou-se com a notícia de que teria sido completamente removido, e a partir daí comecei a mapear todos os sinais do Doc. Como adora sol, e tem pouco pêlo, começou a ganhar cada vez mais sinais com o passar do tempo, e eu ia vigiando cada um. 
A vida continuava, e nós iamos fazendo o costume, deixando que ela passasse por nós mas aproveitando cada dia o melhor possível. 



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