sábado, 13 de julho de 2013

A Mudança

Não sei quanto tempo passou. Uma semana? Duas?
A vida continuava, os afazeres do quotidiano a voltarem a assumir importância após um período em que não consegui pensar nada para além da decisão que tinha para tomar.

Uns dias de calor horríveis fizeram com que o tempo passasse devagar.
O Doc estava bem, as feridas já a cicatrizar, e eu também me sentia melhor.

A minha Mãe sempre teve bons conselhos para mim. Nem sempre os soube dizer da forma mais apropriada, é certo, mas é isso que faz com que seja tão especial. Tinha-me dito, anteriormente, que seguisse o meu coração, e que parasse de pensar na decisão. Que só quando parasse de pensar é que conseguiria decidir. E assim foi.

Decidimos ir a Lisboa com o Doc, para consultar um especialista. Já sabia que ele era a favor da quimioterapia, mas decidi ir para explorar outras hipóteses, drogas recentes, tratamentos alternativos, qualquer coisa que me permitisse continuar a viver com o Doc tal como ele está. Bem.




Voltamos com uma notícias boas, e outras menos boas. Começamos a acreditar que seria necessário começar a quimioterapia. O oncologista recomendou punções ao fígado e aos gânglios para verificar que não haveria infiltrações de mastócitos. Foi muito seguro, identificou o Doc como sendo um caso de risco por apresentar tumores múltiplos, e sugeriu quimioterapia imediata. Relevou as minhas preocupações quanto a riscos, fez piadas sobre cães em tratamento a fazerem surf na praia, garantiu-me que a nossa vida poderia continuar praticamente normal. Convenceu-me.

Afinal, a decisão ainda não tinha sido tomada. Qualquer decisão está a tempo de ser alterada em qualquer momento. Eu só quero o melhor para o Doc. Só não consigo nunca, independentemente da decisão, ter certezas. Convenci-me disso. Nunca iria ter certezas. Qualquer opção era um risco.

De volta ao Porto, era tempo para fazer os exames pedidos. O Doc adorava ir à clínica. No semáforo anterior ao local onde estacionamos, começava a ficar agitado, e enquanto fazia as manobras para estacionar começava a chorar baixinho, como faz sempre que chegamos à praia, ou a qualquer outro sítio que adore. Do carro até à clínica vou sempre a ser puxada, apesar dele normalmente não puxar a trela. Adora entrar no gabinete de consulta e tentar perceber se há algo que possa roubar. Depois destes anos todos, de picadelas constantes no gabinete, de várias anestesias, ecografias, Rx, exames de rotina, continua a adorar lá ir. Espero que assim continue.


Fiquei preocupada com a punção ao fígado. Não me podem tranquilizar, estamos a perfurar um orgão vital, e isso pode ter consequências. Felizmente, tudo correu bem, e no dia seguinte estávamos de volta ao parque, e com boas notícias. Zero infiltrados. 


Engraçado como estas pequenas vitórias assumem uma dimensão que nos fazem sentir capazes de dar uma festa! Fiquei tão contente. Nem tudo corre mal. Sinto uma onda de optimismo invadir-me, mas é passageira. Quando começo a levantar o queixo e a sentir-me capaz, noto que já não estou tão optimista. Então?? Estava a saber tão bem. 


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