domingo, 14 de julho de 2013

Hoje

Depois de alguns dias seguidos a escrever na blogosfera, finalmente cheguei ao dia de hoje.
A partir de hoje a escrita perde o carácter de resumo dos últimos meses, e torna-se mais um diário, onde tenciono escrever sobre o dia-a-dia de um cão com cancro e a sua família. Obrigada a todos pelas mensagens de ânimo, pelas energias positivas, e sobretudo, por me "lerem". Quero muito poder continuar a contar com vocês todos.

Não me arrependi de ter começado a escrever. Ao início tinha medo.
Os últimos anos têm sido dedicados completamente ao meu trabalho com cães. Tem sido uma luta constante, desgastante, e já algo longa para conseguir mostrar que as Intervenções Assistidas por Animais têm espaço em Portugal. Que os cães podem ajudar as pessoas. Que as pessoas podem ajudar os seus cães, se os educarem devidamente e se conseguirem comunicar mais eficazmente com eles.
Encontrei uma equipa fantástica, que começou apenas com a Inês. Daí vieram mais duas, e agora somos 4, e 3 cães, a lutar diariamente por um trabalho que adoramos e que acreditamos que venha a ter bom futuro em Portugal. Nestes anos de luta, já tive momentos menos bons, mas nunca quis desistir. Já me ocorreu desistir, mas nunca o quis fazer. Acredito tanto na nossa equipa!

Tinha para o Doc grandes expectativas. Queria torná-lo num cão de terapia, e desde cedo o eduquei nesse sentido. Tornei-o num cão confiante, que não teme nada e que se sente confortável em qualquer sítio, que consegue concentrar-se mesmo em ambientes demasiado estimulantes, que não sente urgência em fazer mais nada que não seja trabalhar comigo, para nós, para a nossa diversão. Mas o Doc não chegou a ser um cão de terapia. Não aprecia especialmente estranhos, querendo com isto dizer que não lhes dedica nem um segundo da sua atenção, a menos que tenham algo que se coma. O interesse desvanece-se imediatamente depois de comer.
É importante que um cão de terapia goste de pessoas, que seja afectuoso com todas, que crie um vínculo imediato. O Doc não. Os Weimaraner são muitas vezes chamados "cão velcro" porque "colam"  na sua pessoa. O Doc colou em mim, e eu nele.

Depois de termos feito os exames todos, e ter sido dado o ok para a quimioterapia, a nossa vida continua igual. Vamos começar o tratamento na próxima sexta-feira, e só eu estou apreensiva. O Doc não. Continua igual a ele próprio, sem perceber porque é que, de repente, me agarro a ele enquanto dorme, e deito a minha cabeça no seu dorso, enquanto lhe massajo as orelhas e olho para a televisão sem conseguir ver nada. Acho que não entende os meus olhares, enquanto aqui escrevo, e olho para ele de relance, parando os meus olhos nos dele um pouco mais para além do habitual. Não sei se se apercebe das lágrimas que se formam nos meus olhos só por olhar para ele. Acho que não. Ele continua apenas a aproveitar a vida, tal como ela é.


Tiro grandes lições dos meus animais. Todos os dias, praticamente, me ensinam qualquer coisa. Vivendo com uma gata quase cega, e com um gato tripé, muitas vezes dou por mim a olhar para eles e para as suas vidas plenas, a sua felicidade simples, livre de preocupações. A autocomiseração realmente é uma característica muito humana, e os animais ganham tanto com a falta dela... Nenhum deles fica a queixar-se por não ver, ou por não ter uma pata, limitam-se a viver plenamente cada dia e a contentar-se com pequenos prazeres que o ser humano teima em ignorar. Tento pensar nisto todos os dias, e esforço-me por não ignorar. Por isso mesmo, vou levantar-me agora para ir dar um passeio com eles. Livre de preocupações. Só nós. Eu e os cães.

1 comentário:

  1. O Doc percebe o teu estado de espírito e sabe que estás a sofrer, mas tenta relaxar-te com a sua tranquilidade aparente. Ele conhece-te muito bem assim como tu a ele ;)
    Força Maria!
    Beijo grande para ti e para o Doc.
    Cris & Summer

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