quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Arrependida?

Desde que iniciei esta jornada que soube que, inevitavelmente, chegaria o dia em que me iria arrepender da decisão tomada. Se não optasse pela quimioterapia iria arrepender-me. Tendo optado por ela, há dias em que me arrependo. Todos os dias tenho dúvidas. Nuns sinto-me confiante e acredito que podemos vencer. Noutros arrependo-me e quero parar. Acho que deve ser sempre assim, deve fazer parte do processo.

O Doc continua cansado, arfa muito, e começaram a aparecer-lhe umas borbulhas que podem ser consideradas bumps, mas não são bem. Continua a urinar muito, e às vezes manifesta dificuldade em fazê-lo.
Hoje fomos fazer análises para nos certificarmos que está tudo bem, e iremos analisar também a urina para descartar hipótese de infecção urinária.
Então, para o tratar acabo por lhe provocar mal estar de outra forma. Já sabia. Já deveria saber. Deveria estar preparada. Mas nunca estarei preparada para ver o Doc sofrer. Nem que seja um sofrimento relativo, como dificuldade em urinar.

Nunca fui mãe-galinha com ele, apesar de me terem acusado, injustamente, leia-se, de o ser. Sempre o deixei ser cão, aprender com a sua experiência, nem que para isso tivesse que cair de um muro ou tropeçar num corta-fogo. Tive a possibilidade de lhe dar uma vida em que conheceu muitos contextos, e não posso evitar um sorriso quando, junto a um precipício, soltava o Doc para a sua corrida sob o olhar de pânico da Inês, que de seguida se ria a dizer que sabia que ele estava habituado, mas que nunca o conseguiria fazer. Sim, vivemos no limite, eu e o Doc. E é assim que queremos continuar a viver. Agora nunca o solto em locais públicos, pois não sei o que poderá encontrar para comer, que lhe possa fazer mal porque está com as defesas em baixo.
No outro dia levei-o comigo para o centro, soltei-o, achando que sentia falta de correr livre, e ele não quis correr. Ficou comigo, exigindo atenção e algum trabalho. Depois, chegaram os amigos canídeos, e lá foi conviver um pouco. Não creio que lhe faça falta, actualmente, correr solto.
Tento colmatar a falta de vontade para exercicício físico com exercício mental, que ele continua a apreciar bastante.

Hoje não estou arrependida. Ontem estive, durante uns momentos. Tento adaptar-me a toda esta fase, e tenho, imagino que como todos, momentos melhores e outros piores. Julgo que não conseguirei transpor para palavras aquilo que sinto quando me vou abaixo e me arrependo. Por isso escrevo hoje. Hoje é um dia bom.

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