quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Memórias...

O primeiro cão com quem convivi era um espetacular Pastor Alemão. Já existia na família quando nasci, e crescemos juntos. Lembro-me de coisas fantásticas, umas que os meus pais contavam, outras que vivi eu mesma.
Contavam a quantidade de vezes que, enquanto eu ainda gatinhava, se colocava à minha frente nas portas de mola, para que eu pudesse passar ilesa, enquanto ele levava com a porta no dorso. Lembro as vezes que me levava à escola, a um quarteirão de distância, e como não me deixava passar enquanto o semáforo não ficasse verde.
Lembro a sua mãe, que vivia com os meus avós, mesmo por baixo de nós, e das diferenças entre eles. Ela sempre foi conhecida pelo seu mau feitio, e a minha interacção com ela sempre foi muito vigiada. Já com ele, tal não era necessário.

Não sei o que acontece com os odores, que trazem sempre tantas memórias. Para mim têm a capacidade de me fazer reviver os momentos a eles associados, de uma forma tão mais próxima do que a simples recordação de um momento perdido no tempo.
O Patolas (era assim que se chamava) teve que ser eutanasiado, devido a uma espécie de cancro de pele. Lembro-me bem do incómodo que se sentia quando as suas lesões começaram a cheirar mal, e o quanto evitava a nossa presença. Esse é o cheiro que recordo agora.

O Doc está com uma dermatite resultante dos adesivos do catéter da penúltima sessão de quimioterapia. A lesão infectou e criou uma crosta de pús, que agora estou determinada a remover na totalidade. O Doc anda de colar isabelino outra vez, e a minha rotina diária de medicação expandiu-se para tratar da lesão.
Não é nada, e ele vai ficar bem.
Mas o cheiro traz-me tantas memórias... Na altura em que o Patolas partiu, os meus pais acharam que eu era muito nova para compreender a eutanásia. Na verdade não era. Lembro-me perfeitamente de o ver sofrer, e de pensar que aquele cão já não era o mesmo que me protegia das portas e me levava à escola.
O que me leva novamente ao tema: eutanásia. Temo tanto esse momento que, às vezes, me sinto enfraquecer.
Nem todas as memórias são boas. Procuro, no entanto, manter o foco nas positivas.


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