domingo, 1 de setembro de 2013

Sessão nr. 7

Na sexta-feira foi a sétima sessão de quimioterapia do Doc.
Continuo a receber mensagens a perguntar como ele está, e hoje decidi partilhar convosco as mais recentes notícias do seu estado.

Depois da infecção que teve na pata, derivada de uma dermatite causada pelo adesivo que prende o catéter, o Doc teve que tomar antibiótico durante algum tempo e mantivemos a cortisona para ajudar a tratar aquele "detalhe". Por esse motivo só retiramos totalmente a cortisona na sexta sessão, isto é, há uma semana.

A pata está quase boa, e já anda sem colar a maioria do tempo. A outra pata, no local do adesivo, tem reagido bem ao tratamento preventivo que tenho aplicado. Desde que parou de tomar a cortisona, o Doc melhorou significativamente. Já não o vejo tão cansado, nem tão ofegante, nem a beber tanta àgua, nem a fazer tanto xixi.
A única coisa que permaneceu foi a fome. Continua cheio de fome, e a cravar comida a toda a hora.

Parece que voltei aos tempos da sua infância, em que as refeições à mesa são acompanhadas de uns longos olhares de súplica, uns fios de baba a escorrer, e ocasionalmente uns latidos desesperados.

Já parou de perder peso, o que também é um bom indicador. Já voltou a ganhar algumas gramas, e por isso já voltou à dose normal diária. As análises desta semana indicam que tem os valores todos quase normais, tendo ultrapassado totalmente a ligeira anemia.

Isto são factos.
Quanto a nós, a nossa vida nunca mais foi a mesma. Tenho excesso de preocupação com ele, não o deixo explorar tanto na rua como antes, e dou por mim a mimá-lo em excesso. Festinhas enquanto dorme, abraços quando permite, deixo-o saltar para cima de mim se quiser, e por aí fora. Resumindo, estou a deseducar o Doc. Tenho perfeita noção disso, quero contrariar a tendência, mas não consigo.
Não sei quanto tempo tenho com ele, e quero dar-lhe o melhor de mim. Será assim tão estranho? Racionalmente, sei que o melhor para ele é manter as regras, manter as rotinas por isso tenho que me portar bem. Não há mais cantos de pizza para ele depois de jantar. Está decidido. O melhor para ele. Não o conforto que me faz sentir melhor por lhe permitir navegar por mares antes proibidos.

Para a semana será a última sessão semanal. A partir daí, as sessões espaçam-se e passam a ser quinzenais. Alívio. Está quase a acabar. Semanalmente tenho reflectido, durante aquelas horas que ali passo com ele, sobre muita coisa. E uma das coisas que sempre me ocorre é que pouca gente estará na disposição de ficar com os seus animais durante as sessões. No início tive dúvidas, lembram-se? Agora tenho a certeza que o melhor para ele é que eu esteja ali ao seu lado.

O Doc é muito esperto, e já percebeu tudo. Já sabe que tem que chegar, subir para o sofá, entegar uma pata ou a outra ao catéter, e permanecer ali relaxado, até que a sua veterinária aparece com um dentastix no bolso, que tenciona sempre dar-lhe depois de retirar o sistema de soro, mas que acaba sempre por dar assim que entra na sala - porque ele não aguenta esperar!

Continua a ficar feliz da vida ao chegar à clínica, a arrastar-me desde o carro até à porta, e a querer entrar por ali fora como se fosse tudo dele. Não deixa de me surpreender que, indo ali semanalmente para longas sessões de quimio, e mais algumas para tirar umas porções de sangue para análise, que ainda goste do local, das pessoas, e que não perca o seu ar alucinado se a porta não se abre mal chegamos.
O Doc gane no carro quando chegamos à praia, a casa da minha Mãe, ou... à clínica. Surpreendente.

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