sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Estar longe

Hoje estou longe do Doc. Estou longe de tudo.
Hoje não houve quimioterapia de manhã, como em todas as últimas 8 sextas-feiras.
Hoje, apesar de ser sexta-feira 13, o dia começou sem quimioterapia, e fomos comemorar com um passeio no parque, daqueles que o Doc adora.
Fomos cedinho, porque tem estado calor, e agora o calor afecta-o mais. Passeamos, e depois comecei os preparativos para mais uma viagem para Madrid, desta vez sem cães.
Por isso hoje aqui estou, sozinha, sem cães, sem pêlo e, como sempre que isto acontece, com uma sensação de vazio estranha.

Já passou algum tempo desde o susto do tumor que não foi totalmente removido, nem à primeira, nem à segunda cirurgia. Já passei muitas horas na clínica, onde sempre nos trataram acima de bem, sentada, deitada, no chão, no sofá, a ler-lhe, a segurar-lhe na cabeça, a mandá-lo constantemente "deixar" o catéter em paz. É com lágrimas nos olhos que recordo o dia em que decidi avançar com a quimioterapia. Nunca fui grande apologista do prolongamento da vida para simplesmente, ganhar algum tempo, e custou-me a perceber que talvez com o Doc pudesse ser diferente.

Cada vez mais acredito que sim, que está a ser diferente e que pode ser diferente.
Esta semana partiu uma amiga da família, vítima de cancro. Teve a sorte de não ver a sua vida prolongada, e de conseguir partir antes de que o sofrimento profundo se apossasse dela, da família, dos amigos. Vou recordar para sempre a sua gargalhada, e o seu sorriso. A grande senhora que partiu está agora num outro sítio, melhor.

Portanto, quando o Doc partir, também irá para esse sítio, melhor. Egoísta eu, que quero prendê-lo a mim tanto quanto posso, e não quero sequer pensar na hipótese de o deixar ir. Mas, hoje, decidi escrever aqui, para quem ainda tenha dúvidas, que não vou deixar o Doc sofrer para lá do razoável. E qual é o razoável? Acho que só vou saber quando chegar a altura. Acho que vou perceber. Sei que ele vai arranjar uma forma de me dizer que já chega. Ou, pode ser que não seja preciso!!
Que dure muitos anos, e que morra de ataque cardíaco durante o sono quando tiver quase 18 anos. Que sonho bom.
Seja como for, quero frisar outra vez, aqui como em tantas outras conversas, que não tomei esta decisão por egoísmo, mas por achar que o Doc ainda pode ter qualidade de vida.
E o decorrer do tratamento só me tem dado razão, e força para continuar.
A partir de agora as sessões são quinzenais. E nós continuaremos a celebrar a vida todos os dias. Ou a tentar, porque às vezes é fácil esquecer de o fazer.

Hoje, longe da minha família, agradeço ao Miguel por me deixar partir tão sossegada, sabendo que ficam todos os 6 bem, uns com os outros, e que não falha a dose de ração, nem a medicação, nem há descuidos na rua. Mig, confio em ti como em mim. Não é fácil.

Acabo este post muito grata pela família que tenho!
Bom fim-de-semana!

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