Maria = pessoa do Doc
Cancro = proliferação anormal de células
Egoísmo. Só me ocorre esta palavra para iniciar este post, tantos anos depois.
Depois do Doc, veio o Cusca, depois do Cusca, veio a Tashi, depois da Tashi, veio o Pimpas.
Partilho os meus dias com 4 cães maravilhosos (e três igualmente maravilhosos gatos).
Tanto mudou, nada mudou em todo este tempo. Continuo a lutar com as minhas próprias inseguranças e medos, sendo que o maior de todos é o de não conseguir proteger aqueles que mais amo.
Egoísta por ter deixado de partilhar, por ter deixado de me dedicar tanto a todos aqueles que lutam contra isto. Egoísta por esconder de mim mesma os sentimentos que se acumulam com os anos de perdas significativas para isto. Pessoas. Amigos. Família. Porra para o cancro.
Sou optimista, acho. Verdadeira no coração, mentindo para fora tantas vezes.
Há semanas que luto com esta certeza que a Tashi tem algo mau, algo cancerígeno, combatendo com todas as minhas forças os pensamentos negativos e só falando, relevando, do estado de saúde dela com as pessoas mais próximas. Aos mais próximos, mesmo, escondido as minhas preocupações e anseios.
Hoje tive a confirmação daquilo que, sabe-se lá como, já sabia, e mais uma vez o cancro entre nós.
O Doc! O Doc está óptimo e acaba de completar 13 anos. E assim, num momento tão breve quanto acutilante, revivo tudo outra vez.
Agradecida por ter o Doc ainda comigo, depois de tanta luta, de tanto sofrimento.
Mas a Tashi. A Tashi é o meu cão perfeito. O cão que nunca quis, uma raça pouco apreciada, nada fazia prever que chegaria um dia a viver com um belga.
A Tashi é o meu cão perfeito, tantas vezes disse que a ela devo tanto dos meus sucessos profissionais, quer na área das terapias, quer na área da reabilitação comportamental de outros cães. É a minha melhor companheira de trabalho. Em parte por que é como é (Ah, Cristina, não sabe quanto lhe estou grata), em parte porque lhe dei o melhor de mim, após anos de formação. A Tashi é a antítese do Doc, o Doc o meu maior professor, a Tashi o meu melhor aluno.
Tashi, que em tibetano significa prosperidade, sorte, tem sido tudo isso. Tem sido mais do que isso. Tashi é família, é dedicação sem fim, é amor. A Tashi tem ajudado tanta gente, tantos cães, que não posso deixar de sentir uma enorme RAIVA que me corrói por dentro e que tento abafar com tarefas de trabalho, com projectos e com horários, que escondo em lágrimas que não quero que veja, que não quero que ninguém veja, porque eu sou forte, e eu aguento mais.
Linfoma.
A palavra que me assombra há semanas.
Parar com o desabafo emocional e começar com a narrativa educativa, com a esperança de ajudar alguém a detectar o quanto antes qualquer sinal anormal.
Conheço muito bem todos os meus cães, e por isso apercebi-me logo da poliuria e polidipsia da Tashi (em português, excesso de consumo de água e de produção de urina), o que me levou a procurar ajuda veterinária para perceber a causa. Noves fora, que é importante deixar os médicos veterinários fazerem o seu trabalho (e bem), e alguns tratamentos e exames mais tarde, quase por acaso, descobrimos um gânglio aumentado numa ecografia. E foi assim que comecei a aprender mais sobre esta doença.
Hoje chegou a primeira das análises que confirma tudo. Ainda é tudo muito incerto, ainda não sabemos o tipo exacto de linfoma, ainda não temos previsões. Eu cá já sei que me esperam dias de enorme confusão emocional e luta interna, reflexões que me levam a questionar tudo e todos, a razão de vivermos com cães, e o porquê de me dedicar ao que me dedico. Que às vezes apetece baixar os braços, acontece a todos, não?
Tashi, vou-me encher de força, neste blogue e em tantos outros sítios que encontrar para te ajudar como precisas. Para que não me olhes enquanto choro sem perceberes o porquê. Prometo dar o meu melhor, prometo fazer o que sei e aprender o que não sei, e munir-me de todas as forças necessárias para que sejas sempre um cão feliz.
Sabes amiga, dizem que nós não escolhemos os filhos que crescem na nossa barriga...são eles que nos escolhem enquanto mães...porque, de uma forma ainda que dura e crua, o destino (a meu ver) trata de escolher "aquela" pessoa que considera especial para "aquele" bebé.
ResponderEliminarComo para nós os animais são familía, são "pessoinhas peludinhas e fofas", eu acredito que se passa o mesmo. O que para ti é uma cruz (compreende-se) é também um sinal do quão és especial e indicada para estes casos menos sorridentes da vida.
Não é que o mereças..não é que seja castigo...é que...tu, apesar de humana e com emoções e fragilidades...tu sabes lidar melhor com esta situação do que eu,por exemplo. e, acredita que não me orgulho de mim nesse sentido mas, é um facto. Eu amo os meus animais mas, talvez simplificasse um pouco mais essa situação..por eles...por mim...pelos meus filhos...e não me orgulho...mas é a humildade a falar.
Tu és o anjo da guarda dos teus cães e de todos os que te surgiram e surgirão na vida...é o teu dom...a tua sina mas, o teu maior motivo de orgulho por isso és tão focada e boa na profissão que escolheste (que também não surgiu por acaso). Eu conheço o Doc...é especial...é especial por ele...é especial graças a ti. A Tashi é uma cadelinha especial...e porquê?Já pensaste nisso? Veio cá provar que é possível amar tanto um animal...que é possivel um animal dar tanto aos outros, ainda que humanos ou da mesma espécie...veio cá para te relembrar a vossa missão...veio cá para lutar, marcar lugar e, de preferência, viver muitos mais anos.
Ás vezes o que parece uma "cruz", um castigo....é um dom, uma missão, uma função...e a vida encarrega-se de te lembrar disso...embora friamente por vezes. Abraça essa missão..continua a abraçá-la...continua a dar o teu melhor...e o que fôr...será. <3
Beijinho da colega e amiga Algarvia ;)
Best roomate do Doc :D
Ana Marisa Brito
�������� muita força minha amiga.
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