sexta-feira, 16 de junho de 2017

A meio de 2017

Acho que a grande maioria das pessoas pensam que o Doc e eu superámos o Cancro. 

Toda esta partilha, nestas páginas brancas que nos levam a todos vocês, gerou uma pequena comunidade, a quem gosto de chamar "clube de fãs do Doc". Inclui pessoas que não conheço, que não nos conhecem, mas que de alguma forma se sentem unidas a nós pela experiência. 
Tem sido incrível o número de pessoas (conhecidas e desconhecidas) que me contactam em busca de orientação quando passam por situações semelhantes. O Doc não pode ajudar, e eu também não. 
Fico-me pela partilha de experiências, pelas palavras de ânimo e pelos clichés que valem pouco, tão pouco, mas que são tão, mas tão sentidos. 
Volta a sensação de impotência, o sentimento de injustiça desta vida, e há dias menos bons. 

Mas não. Ele continua entre nós. Decidimos viver. Quase sem querer, fui-me focando cada vez menos n'Ele, deixando que se instalasse numa qualquer prateleira escondida no meu coração, e fui vivendo mais. O Doc tem quase 11 anos. 
Há quase 3 anos, quando escrevi a última entrada neste blog, não pensei que chegássemos juntos ao dia de hoje. E por isso estou muito grata. 
Temos tido muita sorte. Há dias de sustos, há dias de sofrimento, mas a maioria dos dias são muito bons. Como fazer o balanço de quase 11 anos juntos, já é para mim muito difícil. 
O Doc já me acompanhou em tantos momentos, bons e maus, que se tornou parte daquilo que sou. Todos os dias, em algum momento de breve pausa, olho para ele e imagino o dia em que ele não vai estar. Tenho vindo a preparar-me para esse dia que, felizmente, ainda não chegou. 

O cancro, nas suas variadas formas, vai batendo a várias portas, causando emoções difíceis de digerir. Vai deixando um rasto, um peso, e leva uma parte de nós, aqueles que vivem por perto, com ele. Nunca é justo e nunca é mais fácil. 
Passa o tempo e as situações que a vida nos traz fazem-me pensar que somos, realmente, afortunados. Por ainda estarmos juntos, por termos qualidade de vida, por existirmos um para o outro. 

Não sou veterinária nem médica, não conheço todas as formas de cancro nem as suas variações. Tenho tentado entender alguns mecanismos do "bicho" e usado todas as armas ao meu alcance para ajudar o Doc a superá-lo, sabendo, algures lá no fundo, que isso não vai acontecer. 

Não quero lembrar os dias maus, os dias das notícias, a ansiedade dos resultados, o stress das viagens, a fadiga dos tratamentos, mas todos esses momentos fazem parte de nós, e daquilo que somos hoje. 

Hoje lembrei, algures durante o passeio com os cães, que por aí fora, continua a haver quem procure ajuda, apoio, força, ao passar por situações semelhantes e quis voltar a escrever neste blog, que criei precisamente para isso. Para que saibam que não estão sozinhos. Para que as dúvidas não vos façam perder as forças, e para que não entrem na estrada que vos leva à loucura porque eles não falam e não tomam decisões. 
E, em jeito de conselho, assim devagarinho, deixo-vos com uma citação de Saint Exupery: "Só se vê bem com o coração"
... nunca podemos errar se seguirmos o coração. 

Dedicado: 
S., R., T.M. - pela luta que acabou, com a certeza que ninguém errou.
T. e S. - para que possam vencer as vossas lutas.

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