Já há muito que queria voltar a estas páginas, mas a vida não foi deixando.
Senti necessidade de me abstrair de todo o peso deste tema, e tentar ignorá-lo, ainda que por poucos meses.
Voltamos hoje, o Doc e eu, depois de quase 2 semanas após a última cirurgia. Aquela que decidi ser a última.
Não decidi baixar os braços da luta, não me interpretem mal. Decidi lutar de outra forma: mantê-lo tão feliz quanto possível enquanto por este mundo estiver.
O cancro não dá tréguas ao corpo do Doc, e aparece nas mais variadas formas: nódulos, sinais, e outros relevos na pele. Uns são duvidosos, outros são quase de certeza tumores, outros não.
E que posso eu fazer, mais do que adaptar-me a esta realidade? Não posso continuar a operar o Doc a cada sinalzinho, bump ou lump que apareça.
Então decidi que só caso não pudesse evitar é que o operaria de novo. Assim foi. Um novo nódulo, ulcerado, a sangrar, obrigou-me a levá-lo do novo à mesa de cirurgia.
No processo todo, perceber tanta coisa nesta vida que normalmente deixamos de lado, que vai perdendo importância, que damos como garantido, e que quero ter para sempre.
O Doc a correr feliz na praia, o Doc enroscado na sua mantinha quentinha, o Doc a ladrar incessantemente a pedir-me qualquer coisa, os seus olhinhos a implorar com brilho e pupilas dilatadas qualquer coisa. O Doc para sempre comigo.
E vai estar. De uma forma ou de outra, vai estar.
Decidi. Decidi não lutar mais contra as suas próprias células, que se revelaram já mais fortes do que ele, eu e todos os que lhe querem bem. Não conseguimos. É impossível retirar todos os nódulos e sinais - mastocitomas e melanomas - sem o tornar num passador canino.
O Doc ainda não tem 8 anos. E todo este tempo, foi muito mais para mim do que um cão. Muito mais do que uma companhia. Foi um motor, que me levou a estudar comportamento canino. Um fogo, que me levou a acordar mais cedo, fazer mais exercício, ser mais saudável, caminhar mais, apreciar mais o outdoor, apanhar mais chuva. Foi um calor que me ensinou a gostar de estar na paz do lar. Foi tanta coisa. Tudo isto e muito mais.
O Doc, eu, o cancro, e como tudo nos afecta hoje não me deixa escrever mais.
Até um dia.
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