quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Mais um pedacinho de mim...

Apesar do Doc ser o elemento central deste blogue, hoje lembrei-me, durante um passeio, que talvez pudesse partilhar com todos mais um pedacinho de mim. O mote foi dado quando recebi de uma amiga, que é como uma irmã, um vídeo muito motivador sobre as escolhas da vida, os pequenos projectos.
E então decidi lançar-me de cabeça, e partilhar um pouco mais de mim.

O Doc veio no início de uma nova etapa, que viria a mudar a minha vida para sempre, pelos mais variados motivos, alguns já aqui referidos.
Quando era pequena, queria ser veterinária, como a maioria dos miúdos que gostam de animais. Rapidamente percebi que o que me apaixonava era o comportamento, e acabei por me decidir por tirar psicologia, apesar de todos os avisos acerca da falta de trabalho, e do panorama do país à época, na àrea. Durante o curso, tive paixões por algumas àreas, e percebi que outras não tinham, para mim, qualquer interesse. O comportamento, e a sua modificação foram sempre o que mais me apaixonou, em particular os comportamentos desviantes, e a modificação de condutas.
Quis a vida, por motivos que aqui não irei expôr, que o último ano do curso fosse dos mais difíceis que vivi, a nível pessoal, e assim decidi, com o apoio dos meus Pais, rumar a Barcelona para uma pós-graduação na àrea forense. Cresci, vivi e aprendi nesse ano. E percebi, ao regressar, que o meu país não tinha como me integrar profissionalmente.
A par do meu percurso académico, sempre os cães. Tive o privilégio de crescer sempre com cães em casa, e foi quando terminei o curso e voltei para Portugal que comecei a pesquisar coisas sobre a sua educação e o seu comportamento, sempre numa base livre e auto-didacta, que tem tanto de bom como de negativo, como sabemos.
Foi só hoje, no meu passeio ao frio com os cães, que fiz esta ligação - passei de especialista em comportamento humano a aficcionada pelo comportamento animal em dias.
Lembro hoje, como se fosse ontem, apesar de já terem passado 8 anos, a primeira vez que me cruzei, numa dessas pesquisas desorientadas pelo fantástico mundo da internet, com o termo "Terapia assistida por Animais" - que maravilha!
Estava a passar uma fase de desânimo, como a maioria dos jovens recém-licenciados, à procura do primeiro emprego, estava empregada num trabalho que detestava, mas que cumpria com desvelo, porque sempre achei que, independentemente do que fazemos, devemos fazê-lo com rigor, e sentia que a vida entrava naquele ram-ram que nos leva, suavemente, a passar os anos sem dar por isso.
Decidi então, mudar de vida. Procurei um co-terapeuta, e achava que podiamos fazer tudo com o mínimo de ajuda possível. Iamos os dois, eu e ele, mudar vidas! Fui fazer formação (não parei, desde então!), e foi assim que o Doc chegou à minha vida!
Nessa altura, já levava bagagem de alguns anos de protecção animal, e tive, por uns breves momentos - ou talvez tenham sido dias, semanas - o sonho de conseguir resgatar um cão que me servisse para tamanho lavor. Rapidamente deixei essa ideia cair, porque quanto mais lia, pesquisava, estudava, e a cursos me apresentava, mais percebia que os cães de terapia deveriam ser seleccionados para o efeito, ainda antes de nascer, e depois educados desde tenra idade para suportarem as mais variadas coisas que iriam viver na sua vida de trabalho.
Não queria estender-me muito nisto, para não maçar os meus (poucos) estimados seguidores!
Percebi que tinha que ter um cão de raça, e que os mais indicados eram os Labradores. Desde que conheci a raça "Weimaraner" que tinha o desejo de viver com um, e bastou, numa dessas pesquisas, encontrar um programa de Terapia Assistida com Animais, nos E.U.A., que usava um Weimaraner, para acreditar que era possível, e que sim, já tinha decidido como queria viver a minha vida.
Fui explicando a ideia às pessoas que me eram próximas. A gargalhada contida que mais recordo, e com saudade, foi a do meu Pai, confuso com a ideia! Ainda assim, depois de a explicar, tive o apoio daqueles que mais importavam para mim. Veio o Doc.
Fui buscá-lo, procurei ajuda para o treinar, percebi rapidamente que havia muitas inconsistências nos métodos utilizados, voltei a procurar ajuda, e algures neste percurso, cruzei-me com pessoas que viriam a assumir um papel muito importante na minha vida.
Em jeito de resumo posso dizer que fui abençoada com alguns acaso, felizes coincidências, que vieram enriquecer o meu Mundo!

Desde então, muita coisa mudou. Percebi que queria mudar a minha vida para sempre. Quando, finalmente, tive uma oportunidade a sério para ser alguém, na àrea da Psicologia, um contrato, um salário, decidi largar tudo. Larguei tudo para perseguir um sonho. Coincidiu com a perda do meu Pai, e lamento mesmo muito não ter tido o apoio dele nessa fase crucial - apesar de ter pensado, muitas vezes, no que ele diria, como ele reagiria - já que quando rumei a Espanha, numa licença sem vencimento, para formação na àrea da educação canina, voltei a ouvir a gargalhada! O meu Pai começou a trabalhar muito cedo, com apenas 11 anos. O meu Pai não teve oportunidades de educação e estudos como eu. O meu Pai regozijou-se como ninguém, quando terminei a licenciatura, e tinha orgulho de ter uma filha "Doutora", num país cheio de "Doutores", e outros títulos. Confesso que para mim, esses títulos sempre foram nada. Ou próximo de nada.

O que sempre quis foi ser feliz a fazer o que gosto. Esse "o que gosto" é que foi sendo alterado, com o passar do tempo e com o meu desenvolvimento enquanto pessoa.

Hoje ouvi, no tal vídeo que me enviaram, que nenhuma profissão nos faz completamente feliz. Concordo, temos sempre algo de que nos queixar! Não sei se será cultural, pessoal... sinceramente não me interessa. Eu sou assim, todos os dias me queixo de qualquer coisa. Mas, à noite, quando me deito, sou feliz porque faço aquilo que mais gosto.
Actualmente, dedico-me a 100% aos cães. Construí, ao longo destes anos, e com a ajuda de uma equipa fantástica, que se foi juntando, boas bases para trabalhar em Terapias Assistidas por Animais, inovei, acrescentando outras Intervenções, continuo a inovar, pelo menos na minha mente cheia de ideias e de sonhos por concretizar, e sou feliz.

O Doc não chegou a ser um cão de terapia. Fez algumas demonstrações, tem um bom nível de obediência e um reportório de comportamentos que inveja a muitos. Mas, não gosta particularmente de interagir com pessoas. Não poderia eu pedir-lhe que se dedicasse a algo que não gosta, quando eu mesma tinha lutado tanto para trabalhar no que me apaixona. Quem diria que, anos mais tarde, conseguisse eu concretizar o meu primeiro sonho, e resgatar um animal necessitado, sofrido, que viesse a dar tanto, a tanta gente. Esse lugar é do Cusca - com quem trabalho nas Intervenções Assistidas por Animais.

Descobri uma paixão ainda maior do que estudar o comportamento humano, e dediquei-me ao comportamento animal, em concreto, dos cães. Dedico-me a isso actualmente, a nível profissional, a par das terapias. Tenho orgulho do meu trabalho, comovo-me com os progressos daqueles com quem trabalho, irrito-me com a falta de condições para trabalhar em alguns casos, canso-me, queixo-me. Mas, no fim do dia, sou uma pessoa realizada. Quero sempre mais, e procuro sempre melhor, não pela competição, não pela concorrência, pelos cães. Por eles e pela sua vida, melhor!

Não sou rica nem ganho muito dinheiro. Às vezes as contas apertam, e faço esforços, como toda a gente. O país está numa fase complicada, precisamente há tanto tempo quanto decidi arriscar, e mudar de vida. Mas aqui me vou aguentando, à espera de dias melhores, vivendo daquilo que me dá mais prazer, e sentindo-me cada vez mais eu própria, mais confiante, e permitindo-me, claro, sonhar mais alto.

Talvez este post vos surpreenda, talvez não. Talvez pareça algo egocêntrico, mas não foi com essa intenção que o escrevi. O que vi hoje, no vídeo que me enviaram, foi tão inspirador, que achei que mais gente devia ter conhecimento de casos de sucesso, de trabalhos que apaixonam, de seguirmos o nosso coração, de seguirmos o que nos guia de verdade. Porque o caminho não é fácil, é cheio de curvas apertadas e pedras no caminho, mas, na verdade, é imensamente recompensador. Para mim está a ser. O melhor caminho que podia ter escolhido, para esta minha passagem pela vida. No regrets. Se mudaria alguma coisa? Talvez tivesse arriscado antes.

Então, a minha mensagem pretende hoje ser de coragem, impulsionadora para quem esteja numa fase repleta de dúvidas, sem saber se há de se ficar pelo certo, ou decidir pelo incerto. Seja qual for a decisão, sigam o vosso coração, e acreditem!

2 comentários:

  1. Enviei-te o video porque enquanto o via o teu nome não parava de ecoar na minha cabeça - como se te estivesse a ver ali, a contar numa conferencia o que hoje escreveste aqui....de lágrimas nos olhos e coração aberto te digo que fizeste a MELHOR escolha do mundo e que com certeza, tens uma estrelinha a brilhar muito, feliz com o teu percurso.

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  2. Estava a precisar desta reflexão. Não sei como o adivinhaste, como sabes estas coisas apesar da distância que nos separa, mas chegou no dia certo, acredita. OBRIGADA, do fundinho do meu coração, porque estas coisas valem muito. Também tu estás agora a viver o fruto das tuas escolhas, e sê forte também, certamente teremos sucessos imensos, apesar das dificuldades do caminho!!

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