quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Sobre os custos da quimioterapia

Uma das informações que tive mais dificuldade em encontrar quando iniciei este processo de pesquisa sobre os vários tratamentos possíveis foi sobre os valores envolvidos.
Suponho que isso tenha bastante peso na decisão de muita gente.

Então decidi escrever sobre os custos da quimioterapia, querendo deixar a importante ressalva que os valores são meramente indicativos e que concerteza dependerão de muitos factores tais como: os medicamentos a usar (protocolo), a técnica de aplicação, o país em que é realizado o tratamento, e a clínica veterinária que presta o serviço. Não irei ao detalhe, irei arrendondar valores, apenas para que quem inicia agora o processo possa ter uma indicação.

Para mim os valores nunca foram o mais importante. Não sou abastada financeiramente, mas pelo Doc estava disposta a pedir empréstimos, matar-me a trabalhar, fazer de tudo o que tornasse possível o seu tratamento.
Outra questão importante é saber se o animal tem seguro de saúde ANTES de ser diagnosticado o processo tumoral.

Voltando ao nosso caso: o Doc tem seguro de saúde desde sempre, e até agora o mesmo tem coberto os tratamentos todos. Claro que pago uma franquia por cada "evento" mas tem sido muito importante para mim poder contar com esta ajuda da seguradora. Assim, recomendo vivamente que toda a gente faça um seguro de saúde ao seu animal. É mais uma despesa anual, mas que poderá fazer a diferença caso o animal venha a precisar de intervenções dispendiosas, que poderão ser difíceis de enfrentar por qualquer família.

Desde que iniciamos o tratamento, cada sessão semanal de quimioterapia ronda os 50€. Quinzenalmente fazemos análises para verificar uma série de coisas, pelo que o valor aumenta.
Mensalmente tenho gasto cerca de 300€ com o Doc entre sessões de quimio, análises, medicação oral, produtos variados para enfrentar as dermatites e alergias, etc.
É um peso no orçamento, claro está. Daí que o meu post de hoje seja sensibilizar a população em geral para contratar um seguro de saúde, que venha a facilitar o tratamento de qualquer situação que surja.

Tenho visto demasiadas pessoas que não têm posses para cuidar devidamente dos seus companheiros de vida, e achei que fazia parte da minha missão abordar este tema.

Outros tratamentos poderão ser mais caros.
Lembro-me de ter feito contactos variados para tentar saber se era possível aplicar radioterapia ao Doc, ainda que para isso tivesse que sair de Portugal. Na altura fiquei a saber que o local mais próximo onde é possível fazer esse tratamento é em Paris, e que um dos centros mais utilizados da Europa é na Holanda. Nenhum destes locais foi uma possibilidade real para mim.
A radioterapia não está disponível em Portugal para animais de companhia porque é um tratamento muito dispendioso, que tem pouca procura, e que é difícil de rentabilizar, já que a construção de um centro para radioterapia fica por uma verdadeira fortuna, para assegurar a segurança da aplicação de radiações.
Noted. Vai para a minha longa lista de coisas a fazer quando for rica: criar um centro de radioterapia em Portugal, para animais de companhia, que pratique preços acessíveis para que seja uma terapêutica ao alcance de todas as pessoas que queiram ajudar os seus companheiros de vida.
Quem sabe um dia... A lista é longa, mas mantenho uma esperança muito ténue de que um dia me seja possível aplicar todas as ideias que tenho e que poderiam, realmente, fazer a diferença na vida de muitos animais.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Pouco tempo para o Doc

Em alturas de maior trabalho, não consigo deixar de me sentir culpada por ter menos tempo para os meus cães. Sou uma afortunada por ter um trabalho que me permite dedicar algum tempo diariamente aos meus animais, normalmente tempo de qualidade. No entanto, há alturas em que isso não é possível, e passo a ser uma pessoa comum, com horários de trabalho normais, e os meus cães ficam sozinhos em casa horas a fio.
Por passar muito tempo com cães de outras pessoas, o sentimento de culpa torna-se um pouco maior. Dedico grande parte do meu tempo a ajudar outros cães, muitas vezes sob prejuízo dos meus. Mas são apenas fases.

De manhã saio para as sessões de Terapia Asssistida por Animais com o Cusca, e o Doc fica sozinho, mesmo sem o irmão. Já está habituado, e normalmente dou-lhe um osso, mas a mim custa-me sempre.
Mais agora. Queria aproveitar todos os momentos com ele.

O Miguel tem sido uma ajuda mais do que preciosa. Os dois com empregos de horários irregulares, às vezes ficamos satisfeitos quando os nossos horários não nos permitem estar juntos, porque são incompatíveis. É que, se não estamos juntos, os cães passam mais tempo com companhia. Quantas pessoas haverá no mundo a pensar desta forma? Quantas pessoas levariam a mal um raciocínio destes? Nós não. Somos felizes assim.

Tenho tido muito pouco tempo para me dedicar a trabalhar com os meus cães, menos ainda com o Doc. Tento pensar que por estar doente não precisa de parar de trabalhar, leio posts de cães doentes, idosos, ou a enfrentar tratamentos que fazem treinos específicos adaptados à sua condição, mas a mim falta-me motivação. Tenho todo um exame para preparar com o Doc, para apresentar e passar (espero) o nível CAP3 da Learning about Dogs mas tenho deixado isso para trás.
Confesso agora aqui que é porque penso que não vou ter tempo suficiente para trabalhar todos os critérios. Alguns estão começados, foram começados antes desta aventura com o cancro, mas depois do cancro deixo-me abater pela incerteza, e a preguiça instala-se. Não quero trabalhar em vão. Depois, racionalmente, começo a pensar que nada será em vão. Que o caminho não será para nada, porque parte do objectivo deste sistema é "to enjoy the process, having fun with the process". E nós tinhamos isto tudo. E se não conseguirmos, teremos para sempre o processo, e as alegrias do mesmo. E nunca poderá ser tempo perdido. Então, porque raios é que não consigo fugir do sofá quando tenho 30 minutos livres, e pegar no material de treino? Permanece uma incógnita.
Estou em processo de racionalização.

E é com a sensação de ter pouco tempo que hoje termino esta página. Porque o tempo é pouco e tenho que ir. O cancro faz o tempo parecer diferente. Ora devagar, ora rápido, parece passar sempre da forma que menos nos convém.

domingo, 18 de agosto de 2013

Há dias bons!

E hoje o dia foi bom!
Conseguimos fazer a nossa caminhada mais longa, e o Doc sem sinais de cansaço. Um pouco mais de 5kms, ir até ao mar e voltar. Parámos para almoçar, e para o Doc descansar, mas não teria sido necessário.
A descida das doses de cortisona tem ajudado bastante. Tenho para mim que os efeitos que notei são mais produto da cortisona do que dos restantes químicos. A infecção na pata está controlada e a melhorar, e o dia foi feliz.

Nunca gostei de domingos. Dia em que nunca gostei de sair, por haver gente a mais na rua, a infestar os  locais mais agradáveis com ruídos, lixos, odores e outras coisas igualmente desagradáveis. Para mim o domingo é em casa, com quem quiser aparecer, mas de preferência só com os residentes. Preguiçar e pôr em dia trabalho atrasado durante a semana sempre me pareceram boas formas de ocupar os domingos. Durante o Inverno, as manhãs são na praia, com os cães. Porque tanto eu, como eles, gostamos mais de apreciar a maresia sem pessoas.
Hoje, porém, decidimos variar, e saímos ao final da manhã em direcção ao mar, para almoçar numa esplanada. O dia estava agradável, solarengo e não demasiado quente. A caminhada a 4 fez-se com muito prazer, paramos lá em baixo para almoçar, deixei-me seduzir por uma maravilhosa tarte de leite condensado, e seguimos para cima.

No caminho de volta, só havia um tema: O Doc, e que bem que ele estava. Como não estava cansado, como tinha estado bem durante todo o passeio, como continuava bem disposto.
E descobri que é só isto que desejo. Não peço muito mais. Estarmos todos bem, apesar das dificuldades da vida, e que possamos aproveitar alguns domingos, muitos passeios, e muitas alegrias.

Porque realmente, às vezes valorizamos demasiado coisas completamente ridículas. E essa sobrevalorização prejudica toda a nossa vida, torna-nos incapazes de apreciar as coisas mais simples, e quase dormentes aos pequenos sucessos. Mas não são os pequenos sucessos responsáveis por grandes passos e conquistas? A minha reflexão de hoje é cheia de entusiasmo e positivismo. 'Bora encarar a vida de outra forma, ultrapassar todas as pedras do caminho, e aproveitar os momentos bons, ainda que não estejam encharcados de sucesso, de adrenalina, de coisas muito boas??
Bora.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Novas análises

O Doc fez hoje novas análises. Mantém-se tudo bem, à excepção de uma pequena anemia.
Vamos juntar mais um medicamento à caixa.

A nossa rotina alterou-se bastante, e não tenho escrito muito sobre isso porque dói. As manhãs e as noites são repletas de medicação e limpeza da lesão. Os passeios são cada vez menores, quer pelo calor, quer pelo seu cansaço. Passa muitos momentos desconfortável com a lesão, que acredito que lhe doa bastante, porque está em carne viva. Passa outros tantos momentos desesperado com a fome.

Pesa 34,250. Peso no ínicio do tratamento: 37Kg. Confesso que a descida de peso até me alegra um pouco, estava a ficar um pouco gordinho antes de tudo isto. Temo apenas que a descida se mantenha.

Há tantas coisas de que tenho medo... Já me habituei à situação, já não me sinto tão ansiosa como antes, mas ainda mantenho a preocupação inicial, e os medos todos que vêm agarrados ao processo. Monstros escuros, alguns verdes, que me atormentam de dia e de noite. Encontro o conforto nas suas sestas, em que aparentemente está tranquilo, e nos momentos em que parece apreciar os passeios.
Ás vezes apetece-me chorar quando o olho nos olhos.
Mas há tantas outras coisas em que se mantém ele mesmo. Continua a querer comer como se o mundo terminasse amanhã e a roubar comida aos gatos sempre que há uma distracção. Continua a manifestar a sua vontade com uns longos olhares e às vezes uns latidos continuados, próprios de cão que quer e não consegue obter. Queria dizer-lhe que sei o que quer, e explicar-lhe porque motivo não pode ter. Queria explicar-lhe tudo o que se passa, e que compreendesse que estarei sempre ao seu lado.
Os cães não compreendem algumas coisas, por muito que nos esforcemos.

Não deixo de ficar admirada quando, do nada, alguém me pergunta pelo Doc, sem que eu soubesse que a pessoa sabia pelo que estamos a passar. Recebo muitas mensagens de apoio, com carinho e compreensão e, ao contrário do que cheguei a temer, nada de pena. Recebo olhares de admiração, vozes de compaixão. Como eu queria poder partilhar tudo isto com o Doc, e que soubesse que o nosso blog tem seguidores na Rússia, no Brasil, nos EUA, e até na Roménia. Países ainda mais estranhos sucedem-se na lista das estatísticas, e fico sem perceber se é produto de um vírus, ou se é mesmo real. Que temos seguidores um pouco por todo o mundo. Não sei sequer como entendem o que escrevo. Resta-me pensar que a linguagem do amor é universal.


Memórias...

O primeiro cão com quem convivi era um espetacular Pastor Alemão. Já existia na família quando nasci, e crescemos juntos. Lembro-me de coisas fantásticas, umas que os meus pais contavam, outras que vivi eu mesma.
Contavam a quantidade de vezes que, enquanto eu ainda gatinhava, se colocava à minha frente nas portas de mola, para que eu pudesse passar ilesa, enquanto ele levava com a porta no dorso. Lembro as vezes que me levava à escola, a um quarteirão de distância, e como não me deixava passar enquanto o semáforo não ficasse verde.
Lembro a sua mãe, que vivia com os meus avós, mesmo por baixo de nós, e das diferenças entre eles. Ela sempre foi conhecida pelo seu mau feitio, e a minha interacção com ela sempre foi muito vigiada. Já com ele, tal não era necessário.

Não sei o que acontece com os odores, que trazem sempre tantas memórias. Para mim têm a capacidade de me fazer reviver os momentos a eles associados, de uma forma tão mais próxima do que a simples recordação de um momento perdido no tempo.
O Patolas (era assim que se chamava) teve que ser eutanasiado, devido a uma espécie de cancro de pele. Lembro-me bem do incómodo que se sentia quando as suas lesões começaram a cheirar mal, e o quanto evitava a nossa presença. Esse é o cheiro que recordo agora.

O Doc está com uma dermatite resultante dos adesivos do catéter da penúltima sessão de quimioterapia. A lesão infectou e criou uma crosta de pús, que agora estou determinada a remover na totalidade. O Doc anda de colar isabelino outra vez, e a minha rotina diária de medicação expandiu-se para tratar da lesão.
Não é nada, e ele vai ficar bem.
Mas o cheiro traz-me tantas memórias... Na altura em que o Patolas partiu, os meus pais acharam que eu era muito nova para compreender a eutanásia. Na verdade não era. Lembro-me perfeitamente de o ver sofrer, e de pensar que aquele cão já não era o mesmo que me protegia das portas e me levava à escola.
O que me leva novamente ao tema: eutanásia. Temo tanto esse momento que, às vezes, me sinto enfraquecer.
Nem todas as memórias são boas. Procuro, no entanto, manter o foco nas positivas.


domingo, 11 de agosto de 2013

Final de férias...

As férias sabem sempre a pouco e queremos sempre mais. Para nós não é diferente.
Voltamos um dia mais cedo, e eu confesso que estava cheia de saudades dos gatos, que ficaram em casa.
Voltamos um dia mais cedo para podermos estar na 4ª sessão de quimioterapia.

As férias... correram bem. Contagem: 1 grande susto, quando o Doc apareceu com o estômago tão dilatado que pensei que o ia perder para uma torção de estômago em Aljezur, em vez que para o cancro, no Porto. Felizmente, tal não se veio a verificar.

Férias muito tranquilas, companhia muito boa, e cães felizes.
Depois da quimio, deixar o Doc em casa com o Miguel, treinos ao final da tarde e partir para o Paraíso. Sim, é mesmo assim que se chama: Lugar do Paraíso.
A casa que os meus Pais me ensinaram a amar, numa terra extremamente rica de sensações. Mesão-Frio e os abraços. O abraço da minha Mãe, o abraço do meu irmão, o abraço do meus. Estes dois últimos, que apenas vejo duas vezes por ano, ou três, num ano bom. Tempo a menos. Sempre.
Um coração partido, minúsculo, de tão apertado que fica depois do adeus.

E o choro, que chega sempre pela noite, na solidão, ao lembrar o tempo perdido que eu e o meu irmão tentamos recuperar, mas que nunca será suficiente. E um orgulho imenso no meu Pai, e o conforto de o imaginar tão feliz por nos ver tão bem e tão próximos. O que nasceu entre mim e o meu irmão é algo que nos resulta difícil de explicar, mas que se vê. Vemo-lo nós, vêem as pessoas que nos vêem, sentimos nós aquele abraço tão só nosso, que é sempre breve demais, mas que parece não terminar nunca. O meu sobrinho está crescido, sempre foi uma criança adorável. Não sou particularmente próxima de crianças mas é uma felicidade ver como cresce tão saudável a todos os níveis. Algo que não é comum, actualmente. O melhor Pai do Mundo foi o meu. A seguir é o meu irmão.



Os passeios que damos sempre juntos os três, com os cães... Hoje faltou o Doc. Não sei durante quantas horas caminhamos pelo monte que nos une e sempre nos surpreende com a sua variedade, e nos proporciona uma sensação de liberdade e cansaço e grandiosidade e deslumbre. O Doc não foi ao Paraíso. O Doc não veio ao monte. Fez-me falta. Imaginei-o a correr os corta-fogos como era habitual e percebi que talvez nunca mais o faça. Lembrei o dia na Praia da Amoreira, no Alentejo, onde levamos os cães para sua diversão total, recordei as corridas dos outros três e o passeio suave, a trote, do Doc, enquanto se mantinha por perto para receber biscoito. Não correu com os outros. Não brincou. Ficou comigo, num passeio calmo pelo rio onde este encontra o mar. Molhou as patas, caminhou, comeu biscoitos. Eu fotografava. O Doc não será mais o mesmo, nem nos corta-fogos, nem na praia. E isso deixa-me completamente devastada.




A saudade dos Meus que cresce sempre que posso estar um pouco com eles. A saudade do que o Doc já foi, a esperança de que o volte a ser, e a inevitável falta do que ainda não partiu. E é assim que hoje termino o dia. Que amanhã já se trabalha, e as férias terminaram.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Férias

Hoje foi a terceira sessão de quimioterapia.
Amanhã vamos de férias.


Foi preciso ouvir várias vezes, de bocas diferentes, que isto seria possível, para aceitar e arriscar uma viagem de praticamente 600 kms para longe da segurança e uma semana de sol e praia.
Nunca pensei que fosse possível.
O Doc está a fazer sessões semanais, e foi apenas preciso ajustar a data de uma sessão, um dia para a frente, antecipar o regresso de férias, um dia para trás, et voilá. Cão em quimioterapia de férias. Assim tão simples?

Eu confio bastante em mim. Sei que serei capaz de detectar algo que esteja menos bem com o Doc, e poderei agir atempadamente. Mas foi a confiança da veterinária mais fantástica que algum dia conheci que me fez manter a marcação de férias. Por isso digo tantas vezes que há coisas que não têm preço. Tenho-me sentido muito especial, tenho sentido o Doc como paciente especial, e somos muito mimados. Lá sigo com os contactos de emergência de clínicas um pouco por todo o país. Bom, nem tanto, apenas pelos locais onde vamos passar.

Ontem foi um dia muito bom. O dia terminou com a melhor notícia possível. Chegaram as análises do Doc, e as defesas estão em alta. A quimio ainda não o afectou dessa maneira. Fui dormir tranquila, depois de uma semana imensamente intensa em termos de trabalho. É só comigo que acontece que a última semana antes de férias é uma loucura total??

Eu, o Doc, o Miguel e o Cusca vamos de férias. Muito bem acompanhados, por sinal.
Voltamos dentro de uma semana.


quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Arrependida?

Desde que iniciei esta jornada que soube que, inevitavelmente, chegaria o dia em que me iria arrepender da decisão tomada. Se não optasse pela quimioterapia iria arrepender-me. Tendo optado por ela, há dias em que me arrependo. Todos os dias tenho dúvidas. Nuns sinto-me confiante e acredito que podemos vencer. Noutros arrependo-me e quero parar. Acho que deve ser sempre assim, deve fazer parte do processo.

O Doc continua cansado, arfa muito, e começaram a aparecer-lhe umas borbulhas que podem ser consideradas bumps, mas não são bem. Continua a urinar muito, e às vezes manifesta dificuldade em fazê-lo.
Hoje fomos fazer análises para nos certificarmos que está tudo bem, e iremos analisar também a urina para descartar hipótese de infecção urinária.
Então, para o tratar acabo por lhe provocar mal estar de outra forma. Já sabia. Já deveria saber. Deveria estar preparada. Mas nunca estarei preparada para ver o Doc sofrer. Nem que seja um sofrimento relativo, como dificuldade em urinar.

Nunca fui mãe-galinha com ele, apesar de me terem acusado, injustamente, leia-se, de o ser. Sempre o deixei ser cão, aprender com a sua experiência, nem que para isso tivesse que cair de um muro ou tropeçar num corta-fogo. Tive a possibilidade de lhe dar uma vida em que conheceu muitos contextos, e não posso evitar um sorriso quando, junto a um precipício, soltava o Doc para a sua corrida sob o olhar de pânico da Inês, que de seguida se ria a dizer que sabia que ele estava habituado, mas que nunca o conseguiria fazer. Sim, vivemos no limite, eu e o Doc. E é assim que queremos continuar a viver. Agora nunca o solto em locais públicos, pois não sei o que poderá encontrar para comer, que lhe possa fazer mal porque está com as defesas em baixo.
No outro dia levei-o comigo para o centro, soltei-o, achando que sentia falta de correr livre, e ele não quis correr. Ficou comigo, exigindo atenção e algum trabalho. Depois, chegaram os amigos canídeos, e lá foi conviver um pouco. Não creio que lhe faça falta, actualmente, correr solto.
Tento colmatar a falta de vontade para exercicício físico com exercício mental, que ele continua a apreciar bastante.

Hoje não estou arrependida. Ontem estive, durante uns momentos. Tento adaptar-me a toda esta fase, e tenho, imagino que como todos, momentos melhores e outros piores. Julgo que não conseguirei transpor para palavras aquilo que sinto quando me vou abaixo e me arrependo. Por isso escrevo hoje. Hoje é um dia bom.